Não é raro ouvir por aí que, por serem naturais, produtos como ervas e chás não representam um risco para saúde. No entanto, médicos alertam que o perigo não reside apenas na noz-da-índia. Quando consumidas em excesso, tais substâncias também são danosas, podendo levar, inclusive, à falência de órgãos como rins e fígado em casos extremos.
Chá verde, chá de hibisco, chá de pholia negra. Segundo o nutrólogo Roger Bonsgestab, essas são apenas algumas das infusões vendidas com a promessa de emagrecimento. No entanto, nenhuma delas possui eficácia comprovada cientificamente.
“Além disso, como não há estudos, não se sabe qual seria a dosagem terapêutica desses produtos e nem qual a procedência das próprias folhas, o que pode torná-las perigosas”, a firma o especialista.
De acordo com a gastroentereologista e nutróloga da Gastro Diagnósticos, Christian Kelly Ponzo, não são raros os casos de pacientes vítimas de hepatite medicamentosa provocada pelo uso de ervas. Também causada pelo uso de anabolizantes, por exemplo, a doença pode levar até à necessidade de um transplante do órgão.
No caso de pessoas que possuem algum tipo de problema de saúde, as restrições em relação ao uso desses produtos são ainda maiores. “Se a pessoa tem gordura no fígado e toma uma erva tóxica para o órgão, ela está mais suscetível. Se ela tem uma alteração do rim e não sabe e consome uma erva diurética, ela envenena o rim. Pessoas hipertensas, diabéticas e com baixa imunidade, assim como idosos e crianças, também podem passar mal”, alerta a médica.
Já a endocrinologista da Unimed Vitória, Rosina Vilella, esclarece que não existe outra forma de emagrecer senão pela mudança de hábitos, já que chás, ervas e sementes não são capazes de eliminar gordura. “Todos querem uma novidade para emagrecer, mas a receita é ingerir menos calorias do que se gasta. Isso só se consegue com alimentação adequada e exercícios”, pontua.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
A gastroentereologista e nutróloga Christian Kelly Ponzo e a endocrinologista Rosina Vilella responderam às perguntas enviadas pelos telespectadores do ESTV 1ª Edição através do aplicativo da TV Gazeta.
No caso de noz-da-índia, o que determina se ela é nociva à saúde? Qualquer quantidade é perigosa?
Christian Kelly: A princípio, o medicamento tem o risco de causar lesão renal, no fígado e no intestino. Mas não sabemos qual é a dose que causa isso, pois não há um estudo científico. Não há estudos mostrando a dose segura. O certo é não usar.
As ervas laxantes para emagrecer tomadas com frequência podem provocar câncer no intestino?
Christian Kelly: Podem aumentar a predisposição para o câncer. As ervas laxativas, a exemplo do sene e da cáscara sagrada, se tomadas continuamente por períodos longos, levam à melanose coli, que é uma inflamação causada por laxantes. Por elas irritarem o intestino, ele pode se predispor ao câncer.
Por que quando tomamos remédio para emagrecer e depois paramos a gente engorda o dobro e não apenas o que foi perdido?
Christian Kelly: A primeira explicação é que muitas vezes o paciente toma remédio, mas não faz dieta ou exercícios. O remédio tem função castradora do apetite e, ao parar, a pessoa volta aos hábitos antigos. Outra explicação é que obesidade é uma doença crônica degenerativa, assim como diabetes e hipertensão arterial. Então, ela é tratada com dieta, mudança do estilo de vida e medicamentos em alguns casos. Esse tratamento tem que ser feito por nutrólogos ou endocrinologistas, que vão controlá-lo. Se não há esse controle e a pessoa para de tomar, ela retorna o problema.
Os chás (erva-doce, cidreira, camomila e outros) normalmente encontrados nos supermercados têm restrição quanto ao uso?
Christian Kelly: Depende se há ou não contaminação da folha in natura ou na hora do processamento do chá. Mas, teoricamente, os chás industrializados não possuem problemas.
Há algum tipo de erva que ajuda no emagrecimento?
Rosina: Não. Verduras, cascas e bagaços de fruta podem ajudar no emagrecimento, pois são ricas em fibras, que aumentam sensação de saciedade. Porém, tomar um chá sem açúcar ou um café sem açúcar é melhor do que tomar um refrigerante. O consumo de adoçantes também deve ser moderado, pois estudos comprovam que eles aumentam a vontade de comer.
Receitas para emagrecer encontradas na internet são fontes seguras?
Rosina: No geral, essas dietas não são confiáveis. A pessoa pode buscar informações no site da Abeso (Associação Brasileira pra o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) ou da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.
Chá verde, preto, guaraná, ajudam ou prejudicam?
Rosina: Não ajudam a emagrecer, mas são melhores do que bebidas como refrigerantes. Eles podem hidratar, desde que não tomados em excesso.
Que sintomas a pessoa sentirá se passar mal pela ingestão desses produtos?
Rosina: No caso da noz-da-índia são diarreia, dor de cabeça, vômitos. Nos casos mais sérios, pode haver obstrução intestinal e falência dos rins. Ela não deve ser consumida, pois contém substâncias tóxicas.
Há algum fitoterápico reconhecido que auxilie na perda de peso?
Rosina: Não. A Sociedade de Endocrinologia não reconhece nenhum fitoterápico como forma de perda de peso. A não ser as fibras naturais dos alimentos, nenhum fitoterápico possui estudos científicos que comprovem sua atuação.
A ingestão de cerveja pode ter alguma reação quando a pessoa ingere sementes ou ervas?
Rosina: Não se tem conhecimento se poderia haver alguma interação. De qualquer forma, quem quer emagrecer deve evitar ao máximo tomar cerveja, que é muito calórica. Com remédios, a exemplo da sibutramina, bupropiona, deve-se evitar o uso concomitante de bebidas alcoólicas, que potencializam a ação dos medicamentos e os seus efeitos colaterais.
É verdade que chá de hibisco pode acelerar os batimentos cardíacos? Quem tem problemas de pressão, coração, diabetes pode consumir essas ervas em geral?
Rosina: O hibisco pode ser tóxico para o fígado se consumido em grandes quantidades e pode acelerar os batimentos cardíacos. De forma geral, essas ervas não têm indicação para emagrecer e devem ser evitadas por qualquer pessoa.
Creditos de
http://www.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2017/02
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